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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Capítulo 10


-Mas você sabe muito bem que eu não posso ajustar a rota para Fudjin!!! – gritou o computador de bordo Cogudex – Um planeta ilha é muito dificil de encontrar.
-Isso é irrelevante, se um macaco ficasse escrevendo numa máquina de escrever num tempo infinito, eventualmente iria escrever Romeu e Julieta. Nós só precisamos saber onde o planeta esteve antes e depois seguir o fluxo – respondeu Rurko animadinho.
Na verdade Poncho e George sabiam que aquilo era besteira. Eles entendiam que realmente, macacos digitando em máquinas de escrever haviam feito fortunas para as editoras das revistas Veja e Carta Capital. Mas como isso se aplicaria na situação, não faziam ideia.
Rurko começa a explicar:
- É só procurar os boatos, seguir as pistas e procurar na cauda dos cometas.
Poncho sabia que aquilo não ia dar em nada mas ficou quieto pois a vontade de fazer alguma coisa o impediu de zoar o Rurko.
George nem estava prestando muito mais atenção por ficar pensando na sua Alice. Sentia saudades do tempo em que ficara com ela no acampamento em Kosciusko. Estava curioso para saber da família dela até. Era a primeira vez que ele se sentia assim... hehe, ele nem fazia ideia de como parecia bobo.
Rurko levou a nave para um espaço porto num asteroide, onde foi pedir informações sobre os últimos avistamentos de Fudjin. Poncho foi comprar um jornal magnético no usb do porto para ver as manchetes em busca de alguma referencia sobre o planeta que eles procuravam. Essas eram as manchetes:

  • Atentado a bomba contra o novo papa. 1º sucesso da guarda suíça lutando com sabres de luz.

  • Filósofos debatem hoje na tv: quem veio primeiro, o prefeito ou a dívida da prefeitura?

  • Lançamento do livro: 1001 lugares para se visitar antes da limpeza étnica.

  • Problemas no 27º revival de woodstock: mais um clone (13º) de Janis Joplin morre de overdose.

  • Avistado planeta-ilha próximo à estrela Sírius. Declarado estado de emergência: onda migratória de surfistas entope todas as vias de comunicação.

De volta à nave, Rurko colocou os viajantes na rota para o sistema Sírius, não era exatamente para onde eles queriam ir, mas era a melhor dica que tinham.
Os surfistas geralmente viajavam em busca de planetas-ilha para surfar em suas ondas gravitacionais. O problema é que por onde quer que um planeta-ilha passasse deixava um rastro de surfistas extraviados que enxiam as filas do serviço social e dos albergues, além é claro de acabar com todo o estoque de Doritos e parafina.
George ficou preocupado com a possibilidade de um destino semelhante ao dos surfistas e começou a criar um plano B. Nesse plano ele se aproveitaria de um momento de desespero, que provavelmente viria quando eles se perdessem, para levar todo mundo para o planeta das macorianas.
Poncho estava pela primeira vez no volante da Valkyria, a sua carta havia acabado de chegar e ele estava animado. Rurko disse que ficaria de olho para ajudar Poncho, mas é claro, ele dormiu, mesmo ainda sendo 8:30 da noite. George estava no fundo da nave estudando vetores, e não prestou atenção quando as coisas começaram a dar errado.
A inexperiência de Poncho no volante, o ronco de Rurko, uma bateria mal colocada e uma rota incerta, foi o necessário para que eles se perdessem. Quando Poncho acordou Rurko, eles já estavam parados.
- Rurko, acorda. Temos um pequeno problema.
- Hã, o que? - diz o viajante semi-dormido – qual o problema?
- Estamos perdidos.
- Perdidos aonde?
Poncho nem respondeu a essa pergunta, só esperando que o bom senso de Rurko acordasse. Enquanto isso George veio para a ponte de comando esperando pelo pior:
- O que aconteceu?
- Estamos perdidos – respondeu Rurko.
- Perdidos aonde? - continuou George.
- Não sei – respondeu Poncho
- Como não sabe? – disse Rurko
-Se eu soubesse nos NÃO estaríamos perdidos.- enfatizou Poncho.
- Mas a gente tem que se perder em algum lugar meu DEUS!!! – Exclamou Rurko.
- Por exemplo, tem gente que se perde no shopping, outros na rua e asism por diante.- continuo Rurko.
- Bom seguindo essa lógica creio que estamos perdido no espaço. – Repounde George com um ar de entendido.
- MAS ONDE DO ESPAÇO ??!!- Perguntou Rurko aparentando sua pulsnate veia de perplexidade.
-COMO VOU SABER, NÃO SEI E PRONTO, NINGUEM MANDOU DORMIR!!- retrucou Poncho levantando as mãos aos céus demonstrando seu característico ar de “se fode ai nerdão” o que deixava Rurko mais estressado, mas ajudou a amenizar aquela discussão de “que é necessário ter um lugar pra se perder ” o que acarretaria um looping infinito de non-sense.
Rurko começa a ficar nervoso e pergunta ao computador:
- Onde estamos?
- Você sabe muito bem que estamos perdidos!
- Onde? - perguntou Poncho, sem pensar.
- Aparentemente a falta de bom senso é contagiosa. Se estamos perdidos é por que não sabemos onde estamos.
George, que tinha voltado para o fundo da nave, grita:
- Meu Deus, estamos perdidos! - E, continuando a ironia – Quem me dera ter algum outro destino para ir!
- Alice, de novo? É sério isso? - Poncho, já nervoso também, por ter se perdido.
- Pelo menos ela mora em um planeta de órbita fixa.
- Vendo por esse lado...
Nesse momento Cogudex irrompe em uma de suas torrentes informativas:
- Segundo meus cálculos, baseados na derivativa da integralidade da onda pós-gravitativa, o planeta passou por aqui ontem. Sua direção mudou 175 graus quando ele passou perto da estrela Sírius B, e agora teríamos que comprar outro jornal para continuar procurando. Aparentemente o planeta passou por nós, mas ninguém notou, Poncho estava vendo Chaves enquanto dirigia e eu estava jogando xadrez contra mim mesmo.
Nesse momento em que todo mundo começa a ficar entediado e ignorando o computador de bordo, George vê a oportunidade de plantar a ideia de ir para o planeta das macorianas, lar da sua Alice.
- Cogudex, aposto que você não consegue achar as coordenadas para o sistema da estrela Vega.
- Você sabe muito bem que eu posso fazer isso em 22 milissegundos, na verdade eu já fiz, e o café também já está pronto.
- Então vamooos!!! - disse Poncho animado, mais por eles terem algum destino do que por estarem indo em direção ao sistema onde ficava o planeta das macorianas.
Rurko ficou um pouco contrariado por eles não estarem mais em direção a Fudjin, mas viu a coisa pelo lado bom, ou seja, mais uma oportunidade para voltar a dormir e pelo menos assim George ia parar de ficar amuadinho com saudades.
No entanto ele se enganou quanto a dormir, Poncho ainda estava dirigindo e ele achou melhor ficar de olho dessa vez, além disso, George começou a falar sem parar:
-Vocês sabiam que o planeta era habitado por um povo primitivo chamado de Maconhenses. Basicamente eram seres que gostavam muito de ouvir um reggae, curtir o por do sol, estudar ciências sociais e estar sempre em contato com a natureza e seus bichinhos fofinhos e bonitinhos.
- MAS tudo mudou quando o primeiro comboio fugido da terra chegou. Era um grupo de ex-proprietários de serrarias e madeireiras que fugiu quando o clima ficou quente demais para plantar pinheiros, sua principal fonte de renda.
- Não que os madeireiros tenham deliberadamente matado algum Maconhense, até quiseram, mas não foi necessário. Acontece que o pinheiro, trazido da terra, não fazia parte da flora local, mas se adaptou absurdamente bem matando todas as espécies nativas de plantas.
- Não sobrou nada para os Maconhenses comerem e, de repente, os madeireiros estavam de frente a um oceano de florestas de pinheiros e claro, ficaram muito ricos. Hoje eles se chamam de macorianos, embora não sejam os habitantes originais.
Poncho e Rurko já estavam de saco cheio daquele papo e começaram a cantar o mais alto possível para ver se ele parava de explicar, cada um uma música:
Poncho cantando ABBA:
You can dance
You can jive
Having the time of your life”
E Rurko cantando um death metal irreproduzível e incognoscível em qualquer língua humana. Enquanto o computador de bordo, ao ver toda a gritaria, pensava se aquilo constituía um ambiente hostil de trabalho, cogudex com toda a suas preocausões preparou as capsulas de ejeção, só pra caso as coisas saíssem do controle mais que o noemal. No entanto, George continuou.
- O pai da Alice é um desses donos de serraria.
- E daí? - Pergunta o computador de bordo, tentando ser sarcástico.
- E daí que ele é muito rico – continuou George sem sacar que o computador não estava nem aí.
- E daí que ele é rico? - perguntou o computador.
- E daí que ele tem dinheiro e a filha também, tenho que lembrá-lo que eu sou apenas um estudante pobretão.
Mais aí Cogudex começou a ficar nervoso:
- ESTUDANTE? VOCÊS ESTÃO VIAJANDO A MESES SEM ASSINAR A LISTA DE PRESENÇA, SEM FAZER PROVA, SEM ESTUDAR SEM... pfiuuuuuuu...
Com o apertar de um botão Rurko desligou o computador de bordo e com ele a nave toda, foi um golpe de sorte pois mais um pouco 3 assentos de polímero barato cada um com um viajante fedido serião adicionado ao mapa da constelação dos planetas das macorianas.
- Ele tava mais chato que você, George. – resmungou Rurko.
- Hehe. Tanto faz, já dá pra ver o planeta da janela da nave, agora é só esperar que a gravidade do planeta nos puxe.
- Soltar na banguela! - disse poncho – É quase como dirigir um fusca.
Nesse momento a nave começou a entrar na atmosfera do planeta. Faíscas começaram a sair do contato do ar com a fuselagem da nave.
- Ta talvez seja um pouquinho diferente de um fusca. – revisou Poncho agarrando mais firmemente ao volante.
Como não puderam usar os freios, já que a nave estava desligada, as faíscas começaram a aumentar e a coisa toda parecia um cometa rasgando o céu noturno iluminando três ou quatro reuniões de Wiccas em clareiras na floresta.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Capítulo 9



Um cubo gigante, com poucas janelas simetricamente dispostas, paredes de uma branqueza límpida reluzindo ao brilho dos sóis alaranjados que já estavam sumindo no horizonte.
Rurko empurrou a maçaneta de acrílico branca da porta de eucalipto branco do grande prédio branco da Comissão.  Ao entrarem no prédio, foram atendidos por uma secretária sem expressão, com cabelo preso num coque e roupa perfeitamente alinhada que observava a tela de seu computador branco com ícones perfeitamente dispostos.
Enquanto Poncho e George esperavam num canto tentando não estragar nada naquele cenário claro e limpo, Rurko se aproximou para pedir informações com a secretária, tentando utilizar todo seu traquejo social e amabilidade adquirida fora de casa.
- Com licença, a senhorita poderia nos informar onde fica a sala de teste de rebeldia?
Ela apenas lançou um olhar frio que atravessou seus óculos e penetrou no entusiasmo de Rurko e apontou para um grande estande localizado a direita do balcão onde estava um mapa do prédio, com complexos corredores orquestrados de tal modo que parecia um labirinto. Rurko se dirigiu até o mapa e contemplou o que pra ele parecia ser uma fase gigante do pac-man com luzes piscantes e indicações, então para compartilhar dessa gloriosa vista sinalizou com acenos para Poncho e George virem ver. Enquanto Rurko e Poncho se perdiam entre os corredores do mapa imaginando quais seriam os melhores caminhos, George já se encaminhava em direção a única rota que se direcionava ao interior do prédio.
Andando pelos corredores iluminados de maneira sóbria, os 3 começaram a imaginar que tipo de ser humano seria o chefe da comissão de anti-rebeldia. Que tipo de pessoa se sentiria a vontade em um lugar como aquele em que todos os ângulos eram retos?
Rurko ficou imaginando um homem bem alinhado e com diversas manias de limpeza e arrumação, ficou pensando em um sujeito como Clint Eastwood misturado com Jack Nicholson alinhando o terno engomado. Provavelmente sentado em uma cadeira de couro preto.
George se desviou do pensamento e ficou imaginando como seria legal se ele estivesse comendo, ou talvez com a sua garota ou talvez os dois, por que não?
Poncho ficou imaginando o reitor de sua antiga universidade em um terno espacial. Ele nunca gostara de nenhuma de suas autoridades e sempre esperava o pior de alguém em uma posição de poder.
Eles andavam naquele labirinto interminável, as luzes passavam como se estivessem andando em uma calçada a noite, cada vez que se incrustavam mais fundo do prédio a luz de fora diminuía até certo momento em que só sobrou a luz artificial branca igualmente espaçada umas das outras.
Durante o percurso, Rurko foi lendo as placas que ficavam acima das portas. “Diretoria das normas e leis”, “ Diretoria da diretoria das normas e leis”, “Central de controle rebelde”, “Alteração musical”, “Sanatório”, “Imposto de Renda”, “Departamento Jurídico” e tantas outras coisas terríveis.
Chegaram à porta. Poncho bateu e de dentro veio um: "Olá, Garotos do espaço".
A porta se abriu, e lá estava o Diretor do controle anti-rebeldia sentado em uma cadeira de couro alta, atrás de uma mesa toda de acrílico. A luz da sala se focava apenas nele, na mesa e em três cadeiras postas lado a lado na sua frente.
- Sentem – ele disse em sua voz levemente britânica, porém caipira.
A sua frente estava o Diretor, David Bowie. Ou apenas a lembrança do antigo rebelde rockstar que tinha o título de “Camaleão do Rock”. Nada de cabelo pintado ou maquiagem, nada de roupas espalhafatosas ou a completa falta de roupas. Apenas um senhor ligeiramente gordo, cabelo devidamente penteado, usando uma camisa branca com gravata e calças cinza.
Os testes começaram.
Rurko foi chamado e uma luz acendeu mostrando uma porta. Entrou. Era uma sala feita para suprimir a saída de qualquer som com paredes cobertas por uma espessa espuma. No centro da sala havia uma cadeira pouco confortável de madeira.
Quando Rurko se sentou a porta se fechou, ele estremeceu, estava ali sozinho sem saber o que ia acontecer e aquela cadeira realmente incomodava. Não era feita para seres humanos. De repente Rurko ouviu algo bem baixinho que começou a aumentar, era "I Wanna Be Sedated" dos Ramones com seus tons agitados e vibrantes, logo Rurko entendeu, eles queriam fazê-lo se agitar.
Afinal, ramones era uma das bandas mais rebeldes que foram revividas depois da virada verde.
Ele se agarrou a cadeira para não responder a musica, mas aquela cadeira se contorcia mais e mais com o progresso da musica.
Chegou uma hora que rurko foi obrigado a sair da cadeira e ficar de pé. Ouvia cada refrão e quando ouvia "Hurry, hurry, hurry before I go insane" abria-se um sorriso em seu rosto pois era loucura ficar imovel sob o som das batidas rápidas e alucinantes.
Rurko então usou uma artimanha que viu há muito tempo em um filme para passar despercebido, colocou a mão nos bolsos e encolheu os ombros, e tentou se concentrar apenas em sua Valkiria esperando para voltar as rodovias espaciais, foram 2 minutos longos mas finalmente acabou. A porta se abriu.
Poncho foi para uma sala onde havia um projetor de imagens. Borrões de tinta começaram a aparecer na parede. Uma voz vinda de uma caixinha de som começou a perguntar o significado das imagens.
Poncho não fazia ideia do que os borrões significavam então começou a chutar. Conforme respondia, começou a dar vazão ao velho ranzinza e avarento que vivia dentro de si: “Moedas”, “Cifrão”, “Estrela”, “6 pontas”, “Poupança”, “Porquinho”, “Circuncisão”.
George ficou na sala com aquilo que restava do rockstar. Bowie começou a lhe fazer perguntas:
- O que você acha das charges politicas, meu jovem?
- Eu não sei, nunca entendi aquilo. Quem são aquelas pessoas? Do que elas estão falando? E porque cargas d’água tem um caranguejinho no canto delas todas?
- Suspensórios? – emendou Bowie enquanto fazia anotações sobre a primeira pergunta.
- Que?
Mais anotações.
- A luz está acesa na sala ao lado, e não tem ninguém dentro dela. O que você faz?
- Depende da preguiça... Mas seria bom se ela apagasse sozinha.
Era visível o desapontamento de Bowie com desempenho dos jovens viajantes. Porém havia um problema de espaço em Kosciusko, e “alguém” precisava de três vagas para “algumas pessoas”, e então o diretor teria que resolver isso da forma mais sensata e responsável.
PERGUNTA BÔNUS SUPER-MEGA-ESPECIAL DE VERÃO!
Rapidamente a sala virou o palco de um programa de auditório, com direito a explosões de confete, assistentes de palco e grandes cortinas vermelhas com prêmios escondidos.
- Quantas notas? – perguntou Bowie, que agora tinha um grande topete colorido com 50 tons de caju.
- oito.
E então, o pianista tocou as oito notas pedidas e George continuou:
- Pra ver a banda passar cantando coisas de amor - É “A Banda” do Chico Buarque.
A resposta emocionou o velho Bowie, pois nunca mais tinha visto alguém cantar versos dessa música ou qualquer outra da MPB.
Isso porque desde o acidente do comboio “Pau Canela”, a maior parte daquela galerinha mais ou menos que você poderia ver em qualquer porta de barzinho tocando cavaquinho e uns batuques, morreu.
A nave “Pau Canela” era do comboio da turma intelectualóide brasileira. Foi a última a sair do planeta pela demora da discussão em relação ao nome de batismo. Na verdade, as últimas gravações da caixa preta indicavam que se esqueceram de corrigir a rota em direção ao sol por ficarem discutindo “as revérberações do univérso em relação ao nome do comboio”. Havia aqueles que queriam mudar o nome para “Chimbinha, o deus da guitarra”; aqueles que queriam “Baião de corda” e aqueles só queriam curtir um amor livre.
Bowie, com uma lagrima lutando para não cair, apontou para as cortinas e disse:
- Certa resposta. Agora vamos para a prova das cortinas, que prêmios temos hoje?
Uma voz de locutor de rádio surgiu:
- Os prêmios de hoje são: A nave Valkirya, em todo seu esplendor e ferrugem, um polystation 4 e um milhão de reais em barras de ouro, que valem mais do que dinheiro.
- Qual cortina, jovem? – Perguntou Bowie.
- A número 3 – respondeu George querendo ganhar um Playstation, nem suspeitando da maracutaia do nome “poly”station.
Rufar de tambores, a cortina se abre, revelando um passaporte para a liberdade na forma de uma nave completamente suja.
Bowie cumprimenta o jovem George e uma assistente de palco traz a chave da nave. De uma porta nos bastidores vem Poncho e Rurko, levemente maquiados e surpresos pelo aumento do tamanho da sala.
Os viajantes se despedem do velho Rockstar e saem com a nave quebrando o teto para o desespero dos patrocinadores.
Depois de muitas comemorações dentro da Valkyria, e uma crise de “computador abandonado” do eufórico Cogudex, começou a discussão de qual seria seu próximo destino, já que era patético eles terem pousado atrás de uma pedra após terem quebrado um teto. “Um teto quebrado é sinal de grandes aventuras, cara!”, gritava Poncho. No meio de uma tripulação entediada, Rurko salta sobre a cadeira já dando novas direções para a Valkyria:
- Ajustar rota, Cogudex! Já sei para onde vamos!
- Isso era mesmo necessário? – ironizou George antes que o capítulo acabasse.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Capítulo 8


Uma coluna de fumaça se destacava no céu estrelado de Kosciuzko, escondendo parcialmente o brilho de duas das três luas que iluminavam a superfície desértica daquele planeta. Abaixo dessa coluna, podia se ver uma velha cabana pegando fogo e, a sua volta, três cadeiras de praias molambentas, prontas para ranger ao mínimo contato físico, ocupadas por três jovens que se largavam sobre elas. Poncho já estava roncando enquanto dormia abraçado ao seu galão de gasolina, Rurko falava incessantemente sobre guloseimas que sua mãe fazia e que seria ótimo acompanhamentos para esse cenário, e George observava as chamas que dançavam compassadamente a sua frente enquanto deixava um pedaço de chocolate derreter no canto da boa.
De repente Poncho levantou da cadeira, derrubando o galão, depois sacudindo a poeira:
- Vamos!
- Vamos! - respondeu Rurko.
- Vamos... Onde? – resmungou George enquanto engolia seu chocolate.
- Emboooora, caaaaaaaara! Já vimos a parada toda queimar, vamos!
- Três vezes ainda.
- Ah, é a vida. Vamos, caaara?
- Na última você ainda colocou mais gasolina, só porque o Rurko viu que tinha sobrado chocolate lá dentro.
- Eu sou louco, cara. Acontece. Vamos?
- E sabe de uma coisa? Esse chocolate é horrível mesmo.
- Ele nunca foi bom. Vamos?
- Tudo bem... Vamos. – suspirou George – Como a gente sai daqui, Rurko?
- Se quisermos mesmo ir embora temos de pegar a Valkyria de volta.
- Ééé - dizem George e Poncho ao mesmo tempo - onde você a deixou?
- Não deixei em lugar nenhum, ela foi confiscada. A gente não está aqui a passeio, isso é uma prisão. Agora temos de ir pra Wallaby, falar com o comissário de Kosciuzko
- Pra que isso? - Perguntou George.
-É um teste, pra ver se nós não somos mais semi-rebeldes.
Com a decisão de partir tomada, o grupo foi em direção à estação de carroças-magnéticas novamente, de onde eles rumariam para cidade de Wallaby, que ficava a poucas centenas de quilômetros dali.
Depois de alguma fila e uns trocados mais pobres, os três estavam dentro da carroça indo ao seu destino. Porém, tudo que se podia ouvir durante a viagem, eram interjeições de Poncho devido ao quão legal eram aquelas carroças, e como elas poderiam mudar o mundo.
- O que tem de incrível, cara? Você não veio usando uma delas? – Perguntou Rurko.
- Claro que não! Na noite que eu fui embora eu saí por aí, pensando num lugar bacanoso onde eu poderia começar minha plantação. Então, perto de onde estavam acontecendo os shows tinha um maluco falando de um lugar incrível e místico perto do mar, onde tudo poderia virar realidade.
- E você acreditou nessa bobeira? – Disse George ceticamente.
- Claro que não, cara! Ele era pirado! Só que daí ele virou pra mim e falou “Vamos, Banzé!”. Daí eu fui, porque achei o apelido maneiroso!
Depois de mais ou menos uma hora de insanidades ditas por Poncho, eles já estavam passando por cima da ponte dos "Heróis da Grande Caça Avassaladora dos Coelhos", mas que todo mundo chamava de ponte da carroça, já que era por lá que passavam os trilhos das carroças. Lá embaixo se via o canal, que separava a ilha de Wallaby do continente. A ilha ficava na baía da corrente alternada, lugar onde os primeiros cosmonautas aterrissaram, a centenas de anos atrás, quando ninguém tinha naves próprias e todos tinham de andar de ônibus espacial. Muito se discutiu na época se deveriam chamar a baía de corrente alternada (AC, no dialeto de Kosciuzko) ou corrente contínua (DC). No final, venceu alternada, pois o principal defensor de contínua levou um raio (ou pelo menos dizem que foi um raio).
Mas esses dias de pioneiros e ônibus cruzando o céu haviam acabado, e agora o que Rurko, George e Poncho viam eram os surfistas e as garotas de micro-biquini andando na areia, aproveitando suas vidas endinheiradas no mais novo destino turístico.
 Wallaby se destoava do padrão “sujo-bagunça-raio-da-morte-problemas” que eles haviam passado até agora. O centro da cidade era uma grande praça, com uma bela fonte no centro jogando água em alta-pressão pra o alto, fazendo com que você sinta seu rosto ligeiramente úmido em qualquer ponto da cidade, em volta da praça, pequenos prédios sistematicamente dispostos numa forma circular, o que formavam grandes anéis de prédios e ruas quando vistos por cima, anéis esses que acabavam nas praias cheias de turistas chapeludos que adoravam mostrar o quanto eram certinhos. Porém a grande referência da cidade era o prédio da Comissão Anti-Rebeldia, que se destacava por ser o maior prédio de lá. A Comissão era o órgão maior de Kosciuzko, era sua função gerenciar os núcleos de rebeldes espalhados pelo planeta, comandar os centros de reabilitação, e, o que mais interessava no momento, decidia quem entrava e saía no planeta.
Pouco a pouco, o trio foi sentindo o desacelerar da carroça que anunciava que eles haviam chegado a seu destino. Ao desembarcarem, se depararam com uma estação em forma de concha acústica que fazia vista para cidade, cenário paradisíaco pra quem havia se acostumado com cabana em chamas ou semi-rebeldes suando suas almas num festival de rock. Porém, a mendiguice de Poncho o fez notar um ponto de sujeira no meio de tanta beleza, um ponto sujo e conhecido. Era seu antigo professor de inglês, Rafayol.
Antes da Virada Verde, Rafayol dava aulas no antigo colégio de Ponho e George, até ser mandado embora por tocar rock & roll para seus alunos. Segundo relatos nunca confirmados, mas muito comentados, as exatas palavras do coordenador da escola no momento de sua demissão foram, “Música desperta coisas terríveis nos alunos! Você quer o que, Rafayol? Que eles sejam criativos e pensantes? Não é isso que precisamos dos jovens!”.
Com a debandada para o espaço, Rafayol contrariou sua esposa e foi lecionar na universidade mais psicofunkdélica (como os próprios estudantes costumavam se referir a ela) do setor oeste da galáxia, a famosa Universidade do Rock.

Porém, como tudo que era público no universo, a universidade estava em greve. Os professores reclamavam da falta de estrutura, como a falta de drogas ilícitas para os alunos de Alucinações Psicodélicas I, ou a quantidade escassa de instrumentos para serem queimados ou quebrados pelos frequentadores de “Física Rockstar”.

Ao se aproximarem, perceberam que o velho professor estava tocando suas músicas por alguns trocados. Trocados bem gordos vindo daqueles turistas ricaços.

- E aí, Rafayol! – Cumprimentou Poncho, jogando uma moeda.
- Fala rapaziada. Que vocês tão fazendo aqui?
- A gente veio recuperar a nave do Rurkolino – Respondeu George, recuperando a moeda que Poncho havia jogado e mais algumas outras, caso eles precisassem.
- WOOW! Então vieram para o grande teste?
- Teste? Tipo uma grande de lutas de espadas de madeira? Ou um concurso de conhecimento élfico? – Perguntou Rurko, usando todas as onomatopeias que lhe fosse necessário para se expressar.
- Hmm, não. É só uma série de perguntas pra ver se vocês não são mais semi-rebeldes. Perguntas moçadas, sobre Rock, física e previdência privada. Eu passei por essa fase uma época, e fiz uma música.
- Toca ela pra gente - disse George, com um leve ânimo.
- Não, ficou uma bosta - disse Rafayol, com olhinhos de quem queria que pedisse de novo.
- Toca logo - disse Rurko, que nem conhecia o professor, mas ficou impaciente, talvez pela música, talvez pela fome.

Rafayol começou a tocar e depois já emendou "Cara legal", uma das suas melhores músicas. A concha acústica se encheu com a canção e as pessoas começaram a se aproximar. Rafayol começou a se animar, e foi emendando mais músicas. O trio começou a ficar de saco cheio daquela gente toda e foi mais ou menos quando Poncho estava querendo morrer que Rurko disse:
- Vamos sair logo daqui, já tá bom de música.
Poncho e George agradeceram mentalmente e os três partiram rumo a uma barraquinha de pipoca.
- A gente come pipoca. E depois? - disse Poncho.
- Depois a gente vai ao prédio da Comissão Anti-Rebeldia. De volta a Valkyria, de volta ao espaço. - respondeu Rurko, já imaginando como seria bom usar um banheiro próprio depois de tanto tempo usando o da cabana do acampamento ou, na plantação de Poncho, o matinho mesmo.
Depois de Rurko ter comido praticamente toda pipoca do carrinho, e Poncho e George terem de arrasta-lo por três ruas pra que não acabasse estacionando em algum outro carrinho de comida, eles haviam chegado a frente do prédio da Comissão, onde o teste os aguardava.