Rurko atravessou as mesas entre as garçonetes e chegou ao outro lado do edifício, o banheiro. Banheiros de espaço-porto são seguros e acolhedores como a casa da sua avó. É claro, isso se sua avó for um monstro gigante de um olho só que mora num pântano. Mas pelo menos têm chocolate. Ok, não têm chocolate nenhum, o banheiro é terrível. Mas na situação que Rurko se encontrava, não havia muito que escolher, existiam coisas dentro dele que gritavam por liberdade. Então ele entrou correndo na primeira cabine livre que viu e fez o que qualquer pessoa sensata faria na mesma situação ao encontrar um vaso incrivelmente sujo: ignorou tudo e sentou pra fazer o que tinha que ser feito. A natureza fazia sua parte e Rurko se divertia lendo tudo que estava escrito nas paredes do banheiro. Serviço terminado, era hora de a tecnologia fazer sua parte, um "CLICK" e um "VUUSH" e tudo estaria resolvido. Rurko apertou o botão. CLICK. Ele ia se levantando, e... *CHUUUUP*.
Com a virada verde, se extinguiu qualquer tipo de privada que usasse água, e se tornou mais comum o uso as de sucção que simplesmente jogavam tudo a milhas de distância no não-mais-tão-belo espaço. Porém em um espaço-porto tão ruim como aquele nunca se pode confiar da manutenção. NUNCA.
- Como nosso querido narrador teve a bondade de acentuar, nunca confie no sistema de sucção. Se não você pode... Hmmm... Ter probleminhas.
Você ficou entalado no vaso.
- Muito obrigado por demonstrar minha vergonha, narrador.
Ha ha ha, eu não disse? NUNCA confie.
- MAS EU TAVA APERTADO! O QUE VOCÊ QUERIA QUE EU FIZESSE?
Tinha uma lata de lixo lá fora...
- Que tal você continuar a narrar?
Eeer... Ok. Enquanto Rurko tentava lidar com sua vergonha, gritos começaram a vir do outro lado da porta. Entre uma tentativa e outra de se desentalar, ele esperava que aquele barulho todo não fosse Poncho e George arrumando algum tipo de confusão. Ele não ia conseguir sair dali tão cedo pra ajudar. Sem muitas alternativas, Rurko se agarrou a maçaneta da porta na esperança de conseguir escapar daquela situação. "Vamos lá, é só eu puxar com força.", pensou ele. Maçaneta agarrada, movimento brusco de puxar e... *PAK*. Agora ele tinha uma maçaneta em sua mão direita e uma porta aberta a sua frente, mas a privada de sucção continuava presa ao mesmo lugar. Rurko teria ficado intrigado com a situação, se não fosse o fato de que no mesmo momento uma luz surgiu da escotilha acima da privada, de onde surgiu um robô de segurança que arrancou Rurko dali. Ainda preso à privada.
- QUALÉ, ME DESENTALA PRIMEIRO. - Disse Rurko sem saber se aquilo que o estava levando pra fora falava ou não.
- iNfRaToR#####dEvE fIcAr CaLaDo#####
- Você não faz idéia do que eu posso fazer com essa maçaneta né?
- #####aBrIr PoRtAs#####
- ERROU! EU POSSO TE DESTRUIR!
Nisso Rurko golpeia o rôbo entre as juntas do braço que o arrastava, que acaba emperrando.
- A VITÓRIA É MINHA! Agora você vai sobrecarregar ao tentar mexer o braço, vai superaquecer e pifar!
Antes que Rurko pudesse reagir, o robô retirou a maçaneta usando a outra mão e sem hesitar o nocauteou.
Quando recuperou a consciência, estava deitado em um tapete inflável em uma sala de 2X4 com paredes com 20cm de acrílico, com um uniforme amarelo escuro e uma dor de cabeça monumental. Já havia passado três dias naquela prisão e, ao toque de recolher, se perguntava onde estariam Poncho e George.
- Não acredito que se esqueceram de mim. - pensava em voz alta - Tenho que fazer um plano pra escapar daqui, mas como? - Silenciou-se assim deitado em sua cela almofada com as mãos embaixo da cabeça e as pernas cruzadas.
Começou a pensar nos inúmeros filmes que envolviam fugas miraculosas e imprevisíveis da prisão, mas a cela era de acrílico impossibilitando os famosos túneis, ele não tinha poderes magnéticos para se igualar ao desempenho de Magneto, talvez ele conseguisse reproduzir a fuga de Neal Caffrey, mas onde ele arranjaria um uniforme? Fora que se usava identificação de DNA por sangue nas portas.
O cenho de Rurko ficou severo parecendo se incomodar com algo, mas parece que não tinha nada naquela cela para incomodá-lo.
- Talvez você tenha se esquecido do fato de que eu tenha que ficar te ouvindo acabar com minhas possíveis ideias.
Esqueço que quando esta sozinho, você presta total atenção a mim, com insultos principalmente, observem que nenhum obrigado foi dito desde o começo do capitulo.
-Você não me ajudou em nenhum momento pra receber um obrigado. Que eu saiba narradores são onipresentes, você poderia me dizer o que esta acontecendo nos outros lugares.
Talvez os outros narradores sejam onipresentes, eu não.
- Ótimo. Eu aqui com um narrador que me diz o óbvio.
Bom, então acho que é obvio que se continuar a me ridicularizar, você não vai sair daí nunca. “Rurko assim vive o restos de sua vida na prisão” final terrível para uma historia que tem dois capítulos apenas.
- Ok, Ok, mas tente ficar quieto um pouco, tenho que pensar em como sair daqui. Veja bem, tenho direito a sair pro pátio da redoma de vidro uma vez por dia a tarde e trabalho na cozinha toda manhã. Como fui preso apenas por não pagar a conta, não sou vigiado na cozinha. Bom, tenho que começar da cozinha. Já sei, vou começar uma confusão no refeitório enquanto estou na cozinha e saio correndo pro hangar de naves voo pra mata mais próxima e escapo por lá. Vai ser moleza, o que acha?
...
- Oh inferno, pode falar agora.
Parece simples demais. Como você vai passar dos identificadores de DNA e abrir a porta do hangar?
- Fácil. Na confusão do refeitório, com certeza um guarda vai ser esfaqueado. Se eu conseguir retirar a faca as portas não serão mais problemas. Quanto ao hangar, espero que as naves tenham umas armas bem maneirosas MUAhauHAUHauHAUh.
Ok.
- Será daqui três dias. Em três dias me libertarei desta desolada cela e finalmente serei livre novamente.
E assim, com um sorriso de louco, Rurko se deita para dormir com roncos ensurdecedores. Nos dois dias seguintes Rurko se manteve atento a toda a rotina do presídio, tanto dos guardas quanto dos presos, ele precisava saber qual preso irritar pra causar um grande tumulto e qual o provável guarda que iria ser esfaqueado. Então, no terceiro dia, seu plano estava com tudo armado.
- Repolho com fígado de rinocetério e tang, sobremesa é sopa de letrinha. Repolho com fígado! Se eu soubesse que essa era comida daqui, eu teria pulado da nave quando a policia me cercou! – Esse era Danko Jones, o alvo de Rurko. Tinha ódio pelo cardápio da prisão e braços que pareciam cilindros de gás de 10m³. Rurko ficou olhando Danko se aproximar da fila do balcão de alimentação, por sorte, Rurko ficou com a entrega da sobremesa naquele dia, detalhe essencial, pois foi ali que ele implantou a discórdia que irritaria Danko. Assim com uma cara carrancuda, Rurko entregou a sobremesa para Danko e lhe-disse:
- O cozinheiro me mandou te entregar isso.
- Cala a boca, pivete, me de logo essa gororoba.
- Só estou dizendo que as letras não flutuam por acaso. Letra por letra e você vai entender o que o cozinheiro fez - disse Rurko com uma terrível tentativa de copiar as enigmáticas frases do Mestre dos Magos.
Danko ficou com uma cara de paisagem, pensando que realmente deveria ter pulado da nave quando a policia o cercou. Então foi para uma mesa que não ficava muito distante da porta. Rurko ficou observando Jones comer a refeição principal, e depois, a sobremesa.
Danko pegou a colher e o prato raso da sopa de letrinhas e as viu formarem uma frase. Dizia “SEU IMBECIL” com uma mosca flutuando no meio, foi ai que Danko levantou chutando tudo.
- COZINEHIRO MALDITO VOU TE MOSTRAR QUEM É O IMBECIL! - gritou enquanto arrancava a mesa do chão.
Esse foi o estopim da grande confusão, com bandejas de alumínio sendo amassadas em cabeças e cadeiras se quebrando em costas, além da comida voando.
- Perfeito... - Sussurra Rurko para si mesmo.