É uma história. Começem pelo Capítulo1. Espero que gostem.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Capítulo 8
Uma
coluna de fumaça se destacava no céu estrelado de Kosciuzko, escondendo
parcialmente o brilho de duas das três luas que iluminavam a superfície
desértica daquele planeta. Abaixo dessa coluna, podia se ver uma velha cabana
pegando fogo e, a sua volta, três cadeiras de praias molambentas, prontas para
ranger ao mínimo contato físico, ocupadas por três jovens que se largavam sobre
elas. Poncho já estava roncando enquanto dormia abraçado ao seu galão de
gasolina, Rurko falava incessantemente sobre guloseimas que sua mãe fazia e que
seria ótimo acompanhamentos para esse cenário, e George observava as chamas que
dançavam compassadamente a sua frente enquanto deixava um pedaço de chocolate
derreter no canto da boa.
De
repente Poncho levantou da cadeira, derrubando o galão, depois sacudindo a
poeira:
-
Vamos!
-
Vamos! - respondeu Rurko.
- Vamos... Onde? – resmungou George enquanto engolia
seu chocolate.
- Emboooora, caaaaaaaara! Já vimos a parada toda
queimar, vamos!
- Três vezes ainda.
- Ah, é a vida. Vamos, caaara?
- Na última você ainda colocou mais gasolina, só
porque o Rurko viu que tinha sobrado chocolate lá dentro.
- Eu sou louco, cara. Acontece. Vamos?
- E sabe de uma coisa? Esse chocolate é horrível
mesmo.
- Ele nunca foi bom. Vamos?
-
Tudo bem... Vamos. – suspirou George – Como a gente sai daqui, Rurko?
-
Se quisermos mesmo ir embora temos de pegar a Valkyria de volta.
-
Ééé - dizem George e Poncho ao mesmo tempo - onde você a deixou?
-
Não deixei em lugar nenhum, ela foi confiscada. A gente não está aqui a
passeio, isso é uma prisão. Agora temos de ir pra Wallaby, falar com o
comissário de Kosciuzko
-
Pra que isso? - Perguntou George.
-É
um teste, pra ver se nós não somos mais semi-rebeldes.
Com a decisão de partir tomada, o grupo foi em
direção à estação de carroças-magnéticas novamente, de onde eles rumariam para
cidade de Wallaby, que ficava a poucas centenas de quilômetros dali.
Depois de alguma fila e uns trocados mais pobres, os
três estavam dentro da carroça indo ao seu destino. Porém, tudo que se podia
ouvir durante a viagem, eram interjeições de Poncho devido ao quão legal eram
aquelas carroças, e como elas poderiam mudar o mundo.
- O que tem de incrível, cara? Você não veio usando
uma delas? – Perguntou Rurko.
- Claro que não! Na noite que eu fui embora eu saí
por aí, pensando num lugar bacanoso onde eu poderia começar minha plantação.
Então, perto de onde estavam acontecendo os shows tinha um maluco falando de um
lugar incrível e místico perto do mar, onde tudo poderia virar realidade.
- E você acreditou nessa bobeira? – Disse George
ceticamente.
- Claro que não, cara! Ele era pirado! Só que daí
ele virou pra mim e falou “Vamos, Banzé!”. Daí eu fui, porque achei o apelido
maneiroso!
Depois
de mais ou menos uma hora de insanidades ditas por Poncho, eles já estavam
passando por cima da ponte dos "Heróis da Grande Caça Avassaladora dos
Coelhos", mas que todo mundo chamava de ponte da carroça, já que era por
lá que passavam os trilhos das carroças. Lá embaixo se via o canal, que
separava a ilha de Wallaby do continente. A ilha ficava na baía da corrente
alternada, lugar onde os primeiros cosmonautas aterrissaram, a centenas de anos
atrás, quando ninguém tinha naves próprias e todos tinham de andar de ônibus
espacial. Muito se discutiu na época se deveriam chamar a baía de corrente
alternada (AC, no dialeto de Kosciuzko) ou corrente contínua (DC). No final,
venceu alternada, pois o principal defensor de contínua levou um raio (ou pelo
menos dizem que foi um raio).
Mas
esses dias de pioneiros e ônibus cruzando o céu haviam acabado, e agora o que
Rurko, George e Poncho viam eram os surfistas e as garotas de micro-biquini
andando na areia, aproveitando suas vidas endinheiradas no mais novo destino
turístico.
Wallaby se
destoava do padrão “sujo-bagunça-raio-da-morte-problemas” que eles haviam
passado até agora. O centro da cidade era uma grande praça, com uma bela fonte
no centro jogando água em alta-pressão pra o alto, fazendo com que você sinta
seu rosto ligeiramente úmido em qualquer ponto da cidade, em volta da praça,
pequenos prédios sistematicamente dispostos numa forma circular, o que formavam
grandes anéis de prédios e ruas quando vistos por cima, anéis esses que
acabavam nas praias cheias de turistas chapeludos que adoravam mostrar o quanto
eram certinhos. Porém a grande referência da cidade era o prédio da Comissão
Anti-Rebeldia, que se destacava por ser o maior prédio de lá. A Comissão era o
órgão maior de Kosciuzko, era sua função gerenciar os núcleos de rebeldes espalhados
pelo planeta, comandar os centros de reabilitação, e, o que mais interessava no
momento, decidia quem entrava e saía no planeta.
Pouco
a pouco, o trio foi sentindo o desacelerar da carroça que anunciava que eles
haviam chegado a seu destino. Ao desembarcarem, se depararam com uma estação em
forma de concha acústica que fazia vista para cidade, cenário paradisíaco pra
quem havia se acostumado com cabana em chamas ou semi-rebeldes suando suas
almas num festival de rock. Porém, a mendiguice de Poncho o fez notar um ponto
de sujeira no meio de tanta beleza, um ponto sujo e conhecido. Era seu antigo
professor de inglês, Rafayol.
Antes
da Virada Verde, Rafayol dava aulas no antigo colégio de Ponho e George, até
ser mandado embora por tocar rock & roll para seus alunos. Segundo relatos
nunca confirmados, mas muito comentados, as exatas palavras do coordenador da
escola no momento de sua demissão foram, “Música desperta coisas terríveis nos
alunos! Você quer o que, Rafayol? Que eles sejam criativos e pensantes? Não é
isso que precisamos dos jovens!”.
Com
a debandada para o espaço, Rafayol contrariou sua esposa e foi lecionar na
universidade mais psicofunkdélica (como os próprios estudantes costumavam se
referir a ela) do setor oeste da galáxia, a famosa Universidade do Rock.
Porém,
como tudo que era público no universo, a universidade estava em greve. Os
professores reclamavam da falta de estrutura, como a falta de drogas ilícitas
para os alunos de Alucinações Psicodélicas I, ou a quantidade escassa de
instrumentos para serem queimados ou quebrados pelos frequentadores de “Física
Rockstar”.
Ao
se aproximarem, perceberam que o velho professor estava tocando suas músicas
por alguns trocados. Trocados bem gordos vindo daqueles turistas ricaços.
-
E aí, Rafayol! – Cumprimentou Poncho, jogando uma moeda.
-
Fala rapaziada. Que vocês tão fazendo aqui?
-
A gente veio recuperar a nave do Rurkolino – Respondeu George, recuperando a
moeda que Poncho havia jogado e mais algumas outras, caso eles precisassem.
-
WOOW! Então vieram para o grande teste?
-
Teste? Tipo uma grande de lutas de espadas de madeira? Ou um concurso de
conhecimento élfico? – Perguntou Rurko, usando todas as onomatopeias que lhe
fosse necessário para se expressar.
-
Hmm, não. É só uma série de perguntas pra ver se vocês não são mais
semi-rebeldes. Perguntas moçadas, sobre Rock, física e previdência privada. Eu
passei por essa fase uma época, e fiz uma música.
-
Toca ela pra gente - disse George, com um leve ânimo.
-
Não, ficou uma bosta - disse Rafayol, com olhinhos de quem queria que pedisse
de novo.
-
Toca logo - disse Rurko, que nem conhecia o professor, mas ficou impaciente,
talvez pela música, talvez pela fome.
Rafayol
começou a tocar e depois já emendou "Cara legal", uma das suas
melhores músicas. A concha acústica se encheu com a canção e as pessoas
começaram a se aproximar. Rafayol começou a se animar, e foi emendando mais
músicas. O trio começou a ficar de saco cheio daquela gente toda e foi mais ou
menos quando Poncho estava querendo morrer que Rurko disse:
-
Vamos sair logo daqui, já tá bom de música.
Poncho
e George agradeceram mentalmente e os três partiram rumo a uma barraquinha de
pipoca.
-
A gente come pipoca. E depois? - disse Poncho.
-
Depois a gente vai ao prédio da Comissão Anti-Rebeldia. De volta a Valkyria, de
volta ao espaço. - respondeu Rurko, já imaginando como seria bom usar um
banheiro próprio depois de tanto tempo usando o da cabana do acampamento ou, na
plantação de Poncho, o matinho mesmo.
Depois
de Rurko ter comido praticamente toda pipoca do carrinho, e Poncho e George
terem de arrasta-lo por três ruas pra que não acabasse estacionando em algum
outro carrinho de comida, eles haviam chegado a frente do prédio da Comissão,
onde o teste os aguardava.
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