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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Capítulo 10


-Mas você sabe muito bem que eu não posso ajustar a rota para Fudjin!!! – gritou o computador de bordo Cogudex – Um planeta ilha é muito dificil de encontrar.
-Isso é irrelevante, se um macaco ficasse escrevendo numa máquina de escrever num tempo infinito, eventualmente iria escrever Romeu e Julieta. Nós só precisamos saber onde o planeta esteve antes e depois seguir o fluxo – respondeu Rurko animadinho.
Na verdade Poncho e George sabiam que aquilo era besteira. Eles entendiam que realmente, macacos digitando em máquinas de escrever haviam feito fortunas para as editoras das revistas Veja e Carta Capital. Mas como isso se aplicaria na situação, não faziam ideia.
Rurko começa a explicar:
- É só procurar os boatos, seguir as pistas e procurar na cauda dos cometas.
Poncho sabia que aquilo não ia dar em nada mas ficou quieto pois a vontade de fazer alguma coisa o impediu de zoar o Rurko.
George nem estava prestando muito mais atenção por ficar pensando na sua Alice. Sentia saudades do tempo em que ficara com ela no acampamento em Kosciusko. Estava curioso para saber da família dela até. Era a primeira vez que ele se sentia assim... hehe, ele nem fazia ideia de como parecia bobo.
Rurko levou a nave para um espaço porto num asteroide, onde foi pedir informações sobre os últimos avistamentos de Fudjin. Poncho foi comprar um jornal magnético no usb do porto para ver as manchetes em busca de alguma referencia sobre o planeta que eles procuravam. Essas eram as manchetes:

  • Atentado a bomba contra o novo papa. 1º sucesso da guarda suíça lutando com sabres de luz.

  • Filósofos debatem hoje na tv: quem veio primeiro, o prefeito ou a dívida da prefeitura?

  • Lançamento do livro: 1001 lugares para se visitar antes da limpeza étnica.

  • Problemas no 27º revival de woodstock: mais um clone (13º) de Janis Joplin morre de overdose.

  • Avistado planeta-ilha próximo à estrela Sírius. Declarado estado de emergência: onda migratória de surfistas entope todas as vias de comunicação.

De volta à nave, Rurko colocou os viajantes na rota para o sistema Sírius, não era exatamente para onde eles queriam ir, mas era a melhor dica que tinham.
Os surfistas geralmente viajavam em busca de planetas-ilha para surfar em suas ondas gravitacionais. O problema é que por onde quer que um planeta-ilha passasse deixava um rastro de surfistas extraviados que enxiam as filas do serviço social e dos albergues, além é claro de acabar com todo o estoque de Doritos e parafina.
George ficou preocupado com a possibilidade de um destino semelhante ao dos surfistas e começou a criar um plano B. Nesse plano ele se aproveitaria de um momento de desespero, que provavelmente viria quando eles se perdessem, para levar todo mundo para o planeta das macorianas.
Poncho estava pela primeira vez no volante da Valkyria, a sua carta havia acabado de chegar e ele estava animado. Rurko disse que ficaria de olho para ajudar Poncho, mas é claro, ele dormiu, mesmo ainda sendo 8:30 da noite. George estava no fundo da nave estudando vetores, e não prestou atenção quando as coisas começaram a dar errado.
A inexperiência de Poncho no volante, o ronco de Rurko, uma bateria mal colocada e uma rota incerta, foi o necessário para que eles se perdessem. Quando Poncho acordou Rurko, eles já estavam parados.
- Rurko, acorda. Temos um pequeno problema.
- Hã, o que? - diz o viajante semi-dormido – qual o problema?
- Estamos perdidos.
- Perdidos aonde?
Poncho nem respondeu a essa pergunta, só esperando que o bom senso de Rurko acordasse. Enquanto isso George veio para a ponte de comando esperando pelo pior:
- O que aconteceu?
- Estamos perdidos – respondeu Rurko.
- Perdidos aonde? - continuou George.
- Não sei – respondeu Poncho
- Como não sabe? – disse Rurko
-Se eu soubesse nos NÃO estaríamos perdidos.- enfatizou Poncho.
- Mas a gente tem que se perder em algum lugar meu DEUS!!! – Exclamou Rurko.
- Por exemplo, tem gente que se perde no shopping, outros na rua e asism por diante.- continuo Rurko.
- Bom seguindo essa lógica creio que estamos perdido no espaço. – Repounde George com um ar de entendido.
- MAS ONDE DO ESPAÇO ??!!- Perguntou Rurko aparentando sua pulsnate veia de perplexidade.
-COMO VOU SABER, NÃO SEI E PRONTO, NINGUEM MANDOU DORMIR!!- retrucou Poncho levantando as mãos aos céus demonstrando seu característico ar de “se fode ai nerdão” o que deixava Rurko mais estressado, mas ajudou a amenizar aquela discussão de “que é necessário ter um lugar pra se perder ” o que acarretaria um looping infinito de non-sense.
Rurko começa a ficar nervoso e pergunta ao computador:
- Onde estamos?
- Você sabe muito bem que estamos perdidos!
- Onde? - perguntou Poncho, sem pensar.
- Aparentemente a falta de bom senso é contagiosa. Se estamos perdidos é por que não sabemos onde estamos.
George, que tinha voltado para o fundo da nave, grita:
- Meu Deus, estamos perdidos! - E, continuando a ironia – Quem me dera ter algum outro destino para ir!
- Alice, de novo? É sério isso? - Poncho, já nervoso também, por ter se perdido.
- Pelo menos ela mora em um planeta de órbita fixa.
- Vendo por esse lado...
Nesse momento Cogudex irrompe em uma de suas torrentes informativas:
- Segundo meus cálculos, baseados na derivativa da integralidade da onda pós-gravitativa, o planeta passou por aqui ontem. Sua direção mudou 175 graus quando ele passou perto da estrela Sírius B, e agora teríamos que comprar outro jornal para continuar procurando. Aparentemente o planeta passou por nós, mas ninguém notou, Poncho estava vendo Chaves enquanto dirigia e eu estava jogando xadrez contra mim mesmo.
Nesse momento em que todo mundo começa a ficar entediado e ignorando o computador de bordo, George vê a oportunidade de plantar a ideia de ir para o planeta das macorianas, lar da sua Alice.
- Cogudex, aposto que você não consegue achar as coordenadas para o sistema da estrela Vega.
- Você sabe muito bem que eu posso fazer isso em 22 milissegundos, na verdade eu já fiz, e o café também já está pronto.
- Então vamooos!!! - disse Poncho animado, mais por eles terem algum destino do que por estarem indo em direção ao sistema onde ficava o planeta das macorianas.
Rurko ficou um pouco contrariado por eles não estarem mais em direção a Fudjin, mas viu a coisa pelo lado bom, ou seja, mais uma oportunidade para voltar a dormir e pelo menos assim George ia parar de ficar amuadinho com saudades.
No entanto ele se enganou quanto a dormir, Poncho ainda estava dirigindo e ele achou melhor ficar de olho dessa vez, além disso, George começou a falar sem parar:
-Vocês sabiam que o planeta era habitado por um povo primitivo chamado de Maconhenses. Basicamente eram seres que gostavam muito de ouvir um reggae, curtir o por do sol, estudar ciências sociais e estar sempre em contato com a natureza e seus bichinhos fofinhos e bonitinhos.
- MAS tudo mudou quando o primeiro comboio fugido da terra chegou. Era um grupo de ex-proprietários de serrarias e madeireiras que fugiu quando o clima ficou quente demais para plantar pinheiros, sua principal fonte de renda.
- Não que os madeireiros tenham deliberadamente matado algum Maconhense, até quiseram, mas não foi necessário. Acontece que o pinheiro, trazido da terra, não fazia parte da flora local, mas se adaptou absurdamente bem matando todas as espécies nativas de plantas.
- Não sobrou nada para os Maconhenses comerem e, de repente, os madeireiros estavam de frente a um oceano de florestas de pinheiros e claro, ficaram muito ricos. Hoje eles se chamam de macorianos, embora não sejam os habitantes originais.
Poncho e Rurko já estavam de saco cheio daquele papo e começaram a cantar o mais alto possível para ver se ele parava de explicar, cada um uma música:
Poncho cantando ABBA:
You can dance
You can jive
Having the time of your life”
E Rurko cantando um death metal irreproduzível e incognoscível em qualquer língua humana. Enquanto o computador de bordo, ao ver toda a gritaria, pensava se aquilo constituía um ambiente hostil de trabalho, cogudex com toda a suas preocausões preparou as capsulas de ejeção, só pra caso as coisas saíssem do controle mais que o noemal. No entanto, George continuou.
- O pai da Alice é um desses donos de serraria.
- E daí? - Pergunta o computador de bordo, tentando ser sarcástico.
- E daí que ele é muito rico – continuou George sem sacar que o computador não estava nem aí.
- E daí que ele é rico? - perguntou o computador.
- E daí que ele tem dinheiro e a filha também, tenho que lembrá-lo que eu sou apenas um estudante pobretão.
Mais aí Cogudex começou a ficar nervoso:
- ESTUDANTE? VOCÊS ESTÃO VIAJANDO A MESES SEM ASSINAR A LISTA DE PRESENÇA, SEM FAZER PROVA, SEM ESTUDAR SEM... pfiuuuuuuu...
Com o apertar de um botão Rurko desligou o computador de bordo e com ele a nave toda, foi um golpe de sorte pois mais um pouco 3 assentos de polímero barato cada um com um viajante fedido serião adicionado ao mapa da constelação dos planetas das macorianas.
- Ele tava mais chato que você, George. – resmungou Rurko.
- Hehe. Tanto faz, já dá pra ver o planeta da janela da nave, agora é só esperar que a gravidade do planeta nos puxe.
- Soltar na banguela! - disse poncho – É quase como dirigir um fusca.
Nesse momento a nave começou a entrar na atmosfera do planeta. Faíscas começaram a sair do contato do ar com a fuselagem da nave.
- Ta talvez seja um pouquinho diferente de um fusca. – revisou Poncho agarrando mais firmemente ao volante.
Como não puderam usar os freios, já que a nave estava desligada, as faíscas começaram a aumentar e a coisa toda parecia um cometa rasgando o céu noturno iluminando três ou quatro reuniões de Wiccas em clareiras na floresta.